sexta-feira, 25 de setembro de 2009

TOMA-ME EM TUAS MÃOS...

"Toma-me ainda em tuas mãos
e não perguntes nada.
Nem sequer dês um nome aos gestos
que se abrigam como um fruto,
uma promessa, um murmúrio
nas fogueiras ateadas em junho.
Juro que vou escolher palavras que não doam
parecidas com as que sempre encontrava nas camas
em que tantas vezes te enterrei por dentro do meu corpo.
Toma-me ainda em tuas mãos.
Eu sei que temos pouco tempo
que não queres inventar novos ardis
para um desamor tão velho,
mas vais ver o mundo é apenas isto
e para isto não procures nenhuma filosofia redentora
porque tudo é no fim de contas tão banal...
Podes por isso começar a refazer a estrada
Que te levava ao centro dos meus dias
e esperar que eu chegue com um retrato desfocado nas mãos
na hora certa de abrir para ti as minhas veias..."
(Alice Vieira)

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