sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

NAS PÁGINAS DE OUTRO LIVRO...

Sinto-me muito cansado.
Olho as páginas de um livro.
Há muito que conheço
a história que nele se pode ler.
Deixo-o entreaberto sobre os joelhos
e as palavras agora afastam-se de mim;
parecem ser pequenas gotas que estremecem.
Aquilo que se encontra à minha volta
reflete-se na sua superfície.
Surpreendo as mesmas casas,
um jardim esquecido.
De novo começo a leitura.
Por vezes,
há homens e mulheres que se aproximam.
Falam agora entre si.
Mas as suas vozes
perdem-se como se fosse o vento
que as levasse para outros sítios.
Principia a ouvir-se lá fora a chuva.
Mais apressadas, chegam outras pessoas.
Elas fazem parte do enredo.
Passo para outra página.
Vejo sozinha uma rapariga.
Poderia dizer-lhe:
"É muito o que te posso dar.
Mas o que existe em mim será suficiente?"
Ela faz-me um aceno.
Sabe que me encontro longe,
sozinho como ela,
nas páginas de outro livro..."
(Fernando Guimarães)

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