domingo, 24 de janeiro de 2010

ONDE O RIO CANTA

"Desenho a minha ausência
juntamente com as rosas que murcham
mesmo em frente à janela onde escrevo.
Deixei cair umas pétalas,
o ténue fio de um caminho
que se perde antes do horizonte.
Conto as letras que encontrei nos bolsos,
não chegam para nada e não há perguntas,
nada que queira saber.
Uns trocos para pão,
migalhas no caminho onde me esperas
como se eu fosse um pássaro faminto.
Dou-te uma bicada de amor:
é tudo o que ficou fora do desenho.
As árvores dão estalidos
como se o vento se tivesse levantado tão cedo.
Estou aqui de véspera
e nem sequer estou cansada.
Atrás do monte há um roseiral
quando lá chegar direi que estive à tua espera
e será verdade como tudo o que escrevo:
amar-te-ei sempre entre as rosas
que planto ao acaso no papel
onde um rio canta
porque me esqueci de desenhar as margens."
(Rosa Alice Branco)

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