domingo, 3 de janeiro de 2010

A CERTEZA

"Vou passar a noite com estes dias.
Com o sorriso que deixaste nos lençóis.
Ainda ardo com os restos do teu nome
e vejo com os teus olhos as coisas que tocaste.
Estou entre o pão e a mesa,
no copo que levas à boca. Na boca que me guarda.
E não sei o que sou entre ontem e o que vier.
Ontem era o rio ao entardecer,
o olhar que acaricia a luz.
O meu filho escreve nos seixos da praia
e eu invento passos para os decifrar.
Todos rolam para longe. É assim o mar.
Vou aprendendo com as ondas a desfazer-me em espuma.
Há sempre uma gaivota que grita quando estou perto,
sempre uma asa entre o céu e o chão da casa.
Mas nada me pertence,
nem as palavras com que cimento as horas.
Talvez o amor seja
uma pequena diferença entre fusos horários
ou o acordo ortográfico
que só existe no fundo da pele.
Mas aqui onde não sou
o que me funda é a certeza que existes..."
(Rosa Alice Branco)

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