terça-feira, 5 de janeiro de 2010

NO CÉU DA TUA BOCA

"Tu choravas e eu ia apagandocom os meus beijos
os rastos das tuas lágrimas.
–riscos na areia mole e quente do teu rosto.
Choravas como quem se procura.
E eu descobria mundos, inventava nomes,
enquanto ia espremendo com as mãos
o meu sangue todo no teu sangue.
Não sei se o mundo existia e nós existíamos realmente.
Sei que tudo estava suspenso,
esperando não sei que grave acontecimento,
e que milhares de insetos paravam
e zumbiam nos meus sentidos.
Só a minha boca era uma abelha inquieta
percorrendo e picando o teu corpo de beijos.
Depois só dei pela manhã, a manhã atrevida
entrando devagar, muito devagar e acordando-me.
Desviei os meus olhos para ti:
ao longo do teu corpo morriam as estrelas.
A noite partira.
E, lentamente, o sol rompeu no céu da tua boca..."
(Albano Martins)

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