sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

REPUGNÂNCIA PELA VIDA

"Estava aqui sentado
e sabes o que cogitava para comigo?
Se não tiver fé na vida,
se perder a confiança na minha mulher amada,
se perder a fé na ordem das coisas
e se, pelo contrário, me convencer
de que tudo é um caos desordenado, maldito
e, talvez, diabólico, se me atingirem
todos os horrores da desilusão humana,
desejarei na mesma viver,
e já que levei à boca esta taça,
não a largarei até que beba a última gota!
Aliás, aos trinta anos sou capaz de largar a taça,
mesmo que não a tenha bebido até ao fim,
e de me afastar... não sei para onde.
Mas, até aos trinta, sei muito bem
que a minha juventude vencerá tudo,
vencerá qualquer desilusão,
qualquer repugnância pela vida.
Tenho perguntado a mim mesmo muitas vezes:
haverá no mundo um desespero
que possa vencer em mim esta sede de vida,
frenética e, talvez, indecente?
Cheguei à conclusão de que, pelos vistos, não existe,
pelo menos até aos tais trinta anos;
e, ao chegar lá, repito,
talvez já não anseie por nada,
assim me parece..."
(Fiodor Dostoievski)

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