sábado, 31 de outubro de 2009

A CALMA

"Um dia fui criança...eu me lembro!
E tudo era dança e desprendimento.
E tudo era ser feliz ao sabor de cada momento.
E tudo era bolacha, e café com leite,
e desenho animado, e meu avô do meu lado.
Mas meus ossos, minhas células,
minhas glândulas e artérias,
meu corpo todo, traidor, cresceu.
E com ele a dor.
Um dia fui adolescente, me lembro muito bem.
E sabia tudo sobre tudo,
sabia sem perguntar a ninguém.
E todo o mundo era minha estrada.
A vida, uma motocicleta envenenada.
E no entanto, colidi com meu próprio espanto.
E esqueci-me de cintos de segurança.
E matei minha esperança.
Um dia envelheci, eu me lembro.
Há algum tempo atrás.
E a poesia chegou um pouco tarde demais,
quando já era gelo dentro de mim...
Quando já não havia montanhas-russas ou viagens à lua.
Quando cheguei enfim ao outro lado da rua
sem ninguém pra segurar minha mão...
E o que era independência se tornou em somente solidão.
E há o hoje. Eu me lembro.
E esse movimento...
Um rio me correndo por dentro..."
(Moacir Caetano)

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