sábado, 31 de outubro de 2009

SEUS OLHOS

"De vivo luzir, estrelas incertas,
que as águas dormentes do mar vão ferir;
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Têm meiga expressão,Mais doce que a brisa,
-Mais doce que o nauta de noite cantando,
-Mais doce que a frauta quebrando a solidão,
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir, são meigos infantes, gentis,
Engraçados, brincando a sorrir.
São meigos infantes, brincando,
Saltando em jogo infantil, inquietos,
Travessos; -causando tormento,
Com beijos nos pagam a dor de um momento,
Com modo gentil.
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são;
Às vezes luzindo, serenos, tranqüilos,
Mas às vezes vulcão! Às vezes, oh! sim,
Derramam tão fraco, tão frouxo brilhar,
Que a mim me parece que o ar lhes falece,
E os olhos tão meigos, que o pranto umedece
Me fazem chorar...
Assim lindo infante, que dorme tranqüilo,
Desperta a chorar; e mudo e sisudo,
Cismando mil coisas, não pensa -a pensar.
Nas almas tão puras da virgem, do infante,
Às vezes do céu cai doce harmonia
Duma harpa celeste, um vago desejo;
E a mente se veste de pranto co'um véu.
Quer sejam saudades, quer sejam desejos
Da pátria melhor;
Eu amo seus olhos que choram em causa
Um pranto sem dor....
Eu amo seus olhos tão negros, tão puros,
De vivo fulgor;
Seus olhos que exprimem tão doce harmonia,
Que falam de amores com tanta poesia,
Com tanto pudor...
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são; eu amo esses olhos
que falam de amores com tanta paixão..."
(Gonçalves Dias)

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