sábado, 31 de outubro de 2009

MADRIGAL MELANCÓLICO

"O que eu adoro em ti, não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.
A beleza é um conceito. E a beleza é triste.
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.
O que eu adoro em ti, não é a tua inteligência.
Não é o teu espírito sutil, tão ágil, tão luminoso,
- Ave solta no céu matinal da montanha.
Nem a tua ciência do coração dos homens e das coisas.
O que eu adoro em ti, não é a tua graça musical,
Sucessiva e renovada a cada momento,
Graça aérea como o teu próprio pensamento,
Graça que perturba e que satisfaz.
O que eu adoro em ti, não é a mãe que já perdi.
Não é a irmã que já perdi. E meu pai...
O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti -lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida..."
(Manuel Bandeira)

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