domingo, 24 de janeiro de 2010

ANTES QUE MORRA O AMOR

"Vem ver-me antes que morra de amor
–o sangue arrefece dentro do meu corpo
e as rosas desbotam nas minhas mãos.
Da minha cama ouço a tempestade nos continentes;
e já quis partir,
deixar que o vento levasse a minha mala por aí;
fiz planos de correr mundo para te esquecer–
mas nunca abria a porta...
Vem ver-me enquanto não morro, mas vem de noite
–a luz sublinha a agonia de um rosto
e quero que me recordes como eu podia ter sido.
Da minha cama vejo o sol tatuar as costas do meu país;
e já sonhei que o perseguia,
que desenhava o teu nome no veludo da areia
e sentia a vida a pulsar nessa palavra
como o músculo tenso escondido sob a pele–
mas depois acordava e não ia...
Vem ver-me antes que morra, mas vem depressa
–os livros resvalam-me do colo
e o bolor avança sobre a roupa.
Da minha cama sinto o perfume das folhas
tombadas nos caminhos. O Outono chegou.
E o quarto ficou tão frio de repente.
E tu sem vires...
Agora quero deitar-me no tapete de musgo do jardim
e ouvir bater o coração da terra no meu peito.
Os vermes alimentam-se dos sonhos de quem morre.
E tu não vens..."
(Maria do Rosário Pedreira)

Nenhum comentário: