domingo, 24 de janeiro de 2010

AS MARCAS DOS PUNHAIS

"As noites são uma febre e tu sabes disso.
mais ou menos leve, mais ou menos violenta.
acossa os que têm medo da dor.
É na noite que determinados encontros acontecem
as feras e os seus pecados evadem-se dos olhos
pássaros de fogo atravessam,
ininterruptamente, os desassossegos
e explodem em espasmos de fogo
que se arremessam livremente
em todas as direcções,
queimando os limites dos espelhos.
Ouço-te, no sussurro precário que pernoita ao largo
ouço-te pela madrugada inerte e despojada de paisagens.
Sei que, na proximidade vertiginosa das sombras
se desprende dos braços o abraço, e nómada escorre
discorre da parede mais próxima a certeza de que não
partirás enquanto não se apagarem as luas, transformistas;
de que não partirei
enquanto não se estilhaçarem os seus reflexos
nas águas duras do rio habitamos
a primeira morada da desolação,
noite dentro tecendo outros corpos de soturnas vogais,
nomeando peles animais em construções de fogueiras mansas
engolindo a acidez da saliva vazia
do latejar permanente do teu sémen
espiando os sulcos da ausência, discretos,
sob as marcas dos punhais
nos pulsos inflamados como papoilas..."
(Ana de Sousa)

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