sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

DE QUE FOGES?

"Prometi a mim mesmo que vou regressar à vida.
Para isso inventei um ritual.
Agarrei na caixa que tenho
com as infinitas fotografias que te tirei
e decidi que todos os dias escolho uma.
Passo horas a fixá-la até a conhecer de cor
e no fim rasgo-a em mil pedaços.
Conto com isto acabar com todas a fotografias
e poder enfim
passar a um plano menos corpóreo da tua memória.
Porque se conseguir fixar
todos os teus traços e expressões,
não vai haver perigo de que te esqueça.
É disso que tenho medo.
De me esquecer da tua cara.
Há histórias de pessoas que a pouco
e pouco vão esquecendo as feições dos que mais amaram.
Mas já pensaste o que seria, se te esquecesse?
Como encaravas tu
o encontrares-me com outra pessoa aqui em casa,
profanando aquele espaço que sempre foi tão nosso?
Tens o teu território marcado,
é o que penso para comigo.
Não posso ultrapassar o peso da tua presença,
mas reconheço que por vezes me falta o ar
quando penso na eternidade desse teu estado imaterial.
Sei que me rodeias mas por vezes a força
para te agarrar não chega e foges de mim,
correndo pela casa, brincando comigo.
Tenho medo disso.
Porque foges tu?
És feliz?"
(Pedro Rapoula)

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