sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

A MINHA SOLIDÃO

"Amo-te tanto que te não sei amar,
amo tanto o teu corpo
e o que em ti não é o teu corpo
que não compreendo porque nos perdemos
se a cada passo te encontro,
se sempre ao beijar-te
beijei mais do que a carne de que és feita,
se depois de ti
a minha solidão incha do teu cheiro,
do entusiasmo dos teus projetos
e do redondo das tuas nádegas,
se sufoco da ternura de que não consigo falar,
aqui neste momento, amor, me despeço
e te chamo sabendo que não virás
e desejando que venhas do mesmo modo que,
como diz Molero, um cego espera os olhos
que encomendou pelo correio."
(António Lobo Antunes)

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