sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

EM VERDADE E TRANSPARÊNCIA

"Nunca mais A tua face será pura,
Limpa e viva...
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.
Nunca mais servirei Senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.
Nunca mais amarei quem não possa viver sempre...
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.
Nunca mais servirei Senhor que possa morrer..."
(Sophia de Mello Breyner)

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