sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

INFINITAMENTE ASSIM...

"Mesmo quando não te vejo,
é nisto que penso: és tão bonita.
Queria-to dizer, mas não consigo:
há coisas que não sei dizer.
Penso nelas e vejo-as muito claramente,
mas não consigo dizê-las.
A beleza tornou-te inaudita.
Sorrio.
Olho para a estrada mas a pensar em ti.
O meu silêncio nomeia
devagarinho a tua beleza.
Invoco-te de uma forma delicada.
Invoco cada detalhe, cada
pormenor. Mas é da beleza por inteiro
que o meu silêncio se ocupa.
Silêncio e beleza e pensamento,
ocupam-se por inteiro.
Preenchem-se.
Mesmo calado, penso em ti e consigo ver-te.
Apesar de olhar para a frente,
é para dentro que eu vejo.
Poderias ficar infinitamente assim: tu.
Até que um dia o esquecimento
seja mais forte, eu vejo-te.
Os olhos, os lábios, a boca, a testa, o nariz,
as mãos, o cabelo, o pescoço, a pele.
Tu.
Tu com o teu sorriso.
Até mesmo esse ar sério
que fazes quando não olhas para mim.
A maneira como fumas
ou como olhas para a frente
enquanto avançamos pela estrada.
Tu. Eu. Nós.
O mesmo instante.
A juventude é o chão sob os teus pés.
E eu sempre a pensar
até quando não digo nada: és tão bonita.
Mesmo quando não acontece nada.
Até quando já não penso em ti..."
(Rui Machado)

Nenhum comentário: