"Seja o que for, 
Era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é 
A todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, 
A cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, 
De dar pulos, de ficar no chão, 
De sair para fora de todas as casas, 
De todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte 
Entre árvores e esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa 
Mais parecida com o que eu penso,
Com o que eu penso ou sinto, 
Que eu nem sei qual é, ó vida.
Cruzo os braços sobre a mesa, 
Ponho a cabeça sobre os braços,
É preciso querer chorar, 
Mas não sei ir buscar as lágrimas...
Por mais que me esforce 
Por ter uma grande pena de mim, não choro,
Tenho a alma rachada 
Sob o indicador curvo que lhe toca...
Que há de ser de mim?" 
(Fernado Pessoa/Álvaro de Campos)
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
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