sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O ESPELHO

"O espelho a minha frente é coisa muda,
Mas de sua mudez ele me fala:
A imagem alheia do outro lado
Me contempla longínqua e interrogante,
Parte de mim, em mim multiplicada,
E posta fora do que sou, textura
De outra pessoa, de outro sonho e forma
-No largo sono de um deus tranqüilo,
A voz se cala e deixa que o cristal
A memória de um vago ser recrie-
Ilusória assim como qualquer cifra.
Existimos, inúteis, refletidos.
Um teatro de sombras, sigiloso:
O que somos, em nosso alto crepúsculo."
(Jorge Luis Borges)

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