sábado, 2 de janeiro de 2010

PERGUNTA

"Pergunta-me se ainda és o meu fogo
se acendes ainda o minuto de cinzas
e despertas a ave magoada
que se queda na árvore do meu sangue.
Pergunta-me se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta,
se na quietude do lago repousaram
a fúria e o tropel de mil cavalos.
Pergunta-me se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enovoadas
e se eras tu quem eu via
na infinita dispersão do meu ser.
Se eras tu que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo a folha rasgada
na minha mão descrente...
Qualquer coisa, pergunta-me qualquer coisa:
uma tolice, um mistério indecifrável.
Simplesmente para que eu saiba
que queres ainda saber,
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer..."
(Mia Couto)

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