sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

POR ME FALTARES...

"Amo como o amor ama.
Não sei razão pra amar-te mais que amar-te.
Que queres que te diga mais que te amo,
Se o que quero dizer-te é que te amo?
Quando te falo, dói-me que respondas
Ao que te digo e não ao meu amor.
Ah! não perguntes nada; antes me fala
De tal maneira, que, se eu fora surdo,
Te ouvisse todo com o coração.
Se te vejo não sei quem sou: eu amo.
Se me faltas...
Mas tu fazes, amor, por me faltares
Mesmo estando comigo, pois perguntas —
Quando é amar que deves.
Se não amas, mostra-te indiferente,
Ou não me queiras,
Mas tu és como nunca ninguém foi,
Pois procuras o amor pra não amar,
E, se me buscas, é como se eu só fosse
Alguém pra te falar de quem tu amas...
Quando eu era pequeno, sinto que eu
Amava-te já longe, mas de longe...
Amor, diz qualquer coisa que eu te sinta!
— Compreendo-te tanto que não sinto,
Oh coração exterior ao meu!
Fatalidade, filha do destino
E das leis que há no fundo deste mundo!
Que és tu a mim que eu compreenda
Ao ponto de o sentir...?"
(Fernando Pessoa)

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