sábado, 3 de outubro de 2009

O TEMPO, ESSE CICATRIZANTE...

"O que mais nos dói e atrapalha na morte de quem amamos,
de imediato, é o desaparecimento súbito do corpo.
Essa repentina falta de assunto para os olhos físicos,
bem acostumados que são com o tom da pele, o jeito dos cabelos,
os diferentes desenhos de sorriso para cada contexto,
a linguagem do olhar,
a expressão corporal que cada um tem para falar e silenciar.
E também o som da risada, o registro da voz,
a textura do abraço, músicas que os sentidos ouvem
e correm pra contar para o coração.
Fica, de cara, uma ausência esquisita.
Esse estranho fechamento das cortinas
quando o show continua a acontecer para nós.
Essa inexistência física de um lugar para onde ir
que nos permita encontrar o que habitualmente encontrávamos.
Até nos darmos conta de que existem outros olhos para ver,
a tristeza nos perturba.
E dói.
Dói muito.
Somente o tempo me traz o conforto
de aprender a encontrá-la no meu coração.
De ouvir as coisas que ela certamente me diria se pudesse me dizer.
De ver e sentir o seu sorriso tão nítido, tão próximo,
na minha memória, que faz tudo ficar ensolarado,
mesmo quando é cinza o céu do meu momento.
Ninguém morre quando continua no outro.
Mas só o tempo nos ensina o caminho dessa mágica do amor.
Só o tempo, esse cicatrizante..."
(Ana Jácomo)

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