sexta-feira, 9 de outubro de 2009

SILÊNCIO...

"As palavras me são problema quando pronunciadas.
Saem como que sem rumo
e tantas vezes tomam um caminho incerto,
indevido.
Não podem ser apagadas,
já se foram e nunca mais retornarão.
Retomam sua vida própria, retomam sua altivez
e são interpretadas por aí de alguma maneira,
nem sempre atingindo o objetivo inicial:
o meu objetivo.
Mas quem é o dono delas afinal?
São tão loucas essas palavras,
são tão próprias que, ao pronunciadas,
se tornam auto-suficientes
e fazem o seu próprio percurso.
Espanto-me com elas.
Amedronta-me tamanha vivacidade.
Sentimentos meus tão íntimos são tentados a se exporem,
mas essas maldosas palavras
que estremecem qualquer ser pensante, os sufoca.
Sentimentos esses que continuam ali, vivos,
se enrijecendo, se petrificando.
Petrificam-se por não se exporem,
por não se posicionarem de uma vez por todas,
por não refazerem-se através da oralidade.
Antes, fazem mal a si próprios
numa ilusão insana de engrandecer o poder dessas palavras,
de exaltá-las na sua crueldade.
Quanta auto-piedade!
Cruéis palavras que são tão minhas
quanto esses auto-piedosos
que parecem inexprimíveis sentimentos.
Luta interna.
Silêncio..."
(Bárbara Matias)

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