sábado, 24 de outubro de 2009

UM SONHO, APENAS...

"E dizer que te sonhei, te quis...
Ofertei-te meus sonhos e alegrias
e fiz tão minhas tuas pequenas coisas
por abrir mil corações às tuas chegadas...
E dizer que me ausentei, silenciei,
morri aos teus olhos quando assim querias
sofrendo a dor, tão maior, que me vencia
ao te chorar em tristezas e receios
quando não soube o que dizer dos teus silêncios
e nem o que fazer com meus vazios...
E dizer que me calei quando foi preciso
porque me tiravas o pensamento e a voz
com argumentos incontestáveis
quando partias do alcance de meus braços
que se prostravam,
resignados pela saudade que deixavas
enquanto, em outros braços, te encontravas...
Mas quando, carente e só, voltavas,
e me contavas tuas ansiedades, incertezas,
eram meus os braços que te acolhiam
felizes e imensos por te receber de volta...
Mas assim que te sentias, quem sabe, confortado,
pelas tantas coisas que te oferecia,
saciada a sede, a fome, a fantasia,
tiravas-me, pouco a pouco e sem cuidado,
o muito pouco que eu ainda tinha...
Estranhas, talvez, meu desencanto agora,
em que desfaço tudo o que te representa...
É só o meu cansaço, insana desistência,
somada a essa ausência que te dou de mim.
Mas só porque partiste...
E quiseste assim...
Talvez, no meu aceno, à despedida,
ainda me vejas disfarçar um gesto
que conte toda a dor que esse desfecho traz...
Só não te abraço... Nem conseguiria...
Porque desejaria te dizer: não vás!
E dou-me agora, para meu conforto,
um doce sublimar de sentimento em mim:
Poder pensar sem dor, que te sonhei um dia,
mas foste um sonho apenas...
E então, assim,
guardar-te nas lembranças que virão, mais tarde...
Poder viver a vida, sem sentir saudade...
Seguir, cabeça erguida,
peito livre, enfim..."
(Helena C. de Araujo)

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