sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

DESPEDAÇO

"Caminho pelos espaços vãos
perdi a sorte, perdi a calma, a hora
perdi o bonde, perdi isso...
um corte na testa, outro na alma
isso atesta o coração contrito
isso atesta que a vida é um saco.
Estou um caco
em atrito com o mundo
estou escasso,
obcecado com tudo
e ainda ressacado e aflito
e com os nervos e a paz
desarticulados
não sou capaz de sustentar
a vida na sua casca.
O corpo não é mais feito de aço
o dia despencou,
as contas venceram
a carteira de cigarro amarrotou,
estou duro, sem a metafísica
e sem mulher.
-O pior é estar sem mulher-
qualquer sensação
aparente sustentável humana
me despedaça
o vazio enfarta.
Me tomaram a carteira
o relógio
caí, pisei no cadarço
estou sozinho demais
para caber na minha solidão,
as roupas amarrotadas no chão
no chão também meus pedaços.
A vida surrupiou o tecido dos sonhos
e devastou um coração que era vento
vasto.
Eu me perdôo pelo que
não fui e não fiz
por fazer o que não faço.
Porque, em verdade,
eu nunca fui o que sou
eu nunca fico,
eu sempre passo..."
(Geovane Belo)

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