terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

NASCIMENTO ÚLTIMO

"Como se não tivesse substância
e de membros apagados.
Desejaria enrolar-me numa folha
e dormir na sombra.
E germinar no sono,
germinar na árvore.
Tudo acabaria na noite, lentamente,
sob uma chuva densa.
Tudo acabaria pelo mais alto desejo
num sorriso de nada.
No encontro e no abandono,
na última nudez,
respiraria ao ritmo do vento,
na relação mais viva.
Seria de novo o gérmen que fui,
o rosto indivisível.
E ébrias as palavras diriam
o vinho e a argila
e o repouso do ser no ser,
os seus obscuros terraços.
Entre rumores e rios
a morte perder-se-ia..."
(António Ramos Rosa)

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