quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

PARA ENTREGAR A ELE...

"Eu não tenho cabelos vermelhos
e o meu vestido não é amarelo.
Eu sou só uma menina invisível,
deitada na grama invisível
que a moça que não sabia desenhar,
não desenhou.
Aquele é o menino que eu não lhe falei.
Ele sempre está preso num único instante;
o instante em que o moço que sabia desenhar,
o desenhou.
O balão que subia as nuvens,
com várias crianças chamando,
teve de desviar o caminho,
pois não fazia parte desse desenho.
O avião que trazia uma faixa,
com linda declaração de amor,
teve de mudar a rota,
pois neste céu azul é que não foi desenhado.
O pombo-correio
que veio voando de fora da imagem,
bateu o bico na borda e caiu.
Por isso, o menino está sempre só.
Se as crianças do balão não conseguiram.
Se o avião também não conseguiu.
Se nem o pombo-correio teve sucesso,
como é que eu, uma menina invisível,
feita de palavras, poderia chegar até ele?
Foi o que passei dias e dias pensando.
Então, numa de minhas viagens,
ouvi dizer que uma imagem valia mais
do que mil palavras.
Não tive dúvidas.
Abri a oficina invisível,
acendi as luzes transparentes
e comecei a construir
este imenso abraço de palavras.
De mil e duas palavras.
Para, um dia, entregar a ele..."
(Rita Apoena)

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