sexta-feira, 9 de outubro de 2009

É MAIS FÁCIL ESCREVER DO QUE FALAR...

"Pensava que escrevia por timidez, por não saber falar,
pelas dificuldades de encarar a verdade
enquanto ardia, arvorava, arfava.
Há muitos que ainda acreditam que começaram a escrever
pela covardia de abrir a boca.
Nas cartas de amor, por exemplo,
eu me declarava para quem gostava pelo papel ...
Acreditei mesmo que escrever era uma fuga,
pedra ignorada, silêncio espalhado, um subterfúgio,
que não estava assumindo uma atitude
e buscava me esconder, me retrair, me diminuir.
Mas não.
Escrever é queimar o papel de qualquer forma.
Desde o princípio, foi a maior coragem,
nunca uma desistência, nunca um recuo,
e sim avanço e aceitação.
Deixar de falar de si para falar como se fosse o outro.
Deixar a solidão da voz para fazer letra acompanhada, emendada,
uma dependendo da próxima garfada para alongar a respiração.
Baixa-se o rosto para levantar o verbo.
É necessário mais coragem para escrever do que falar,
porque a escrita não depende só de ti.
Nasce no momento em que será lida..."
(Fabrício Carpinejar)

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