quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O QUE HÁ EM NÓS DE FRAGILIDADE...

"O que há em nós de fragilidade,
parece ameaçar a todo instante se romper,
estilhaçar-se sobre esse chão que julgamos firme
e onde vamos compondo, em dores e delicadezas,
essa história que nos pertence.
O que há em nós de fragilidade parece,
a todo momento, nos cravar punhais no peito,
instalando na garganta o nó que muitas vezes
nos cala porque sabemos que ainda há tanto a dizer...
O que há em nós de fragilidade
tece teias invisíveis à nossa volta,
recria o sentido do indivisível, do intransponível,
o que não ousamos enfrentar.
Infiltra-se com suas raízes tal qual a hera nos muros
que criamos ao nosso redor...
O que há em mim de fragilidade
formula perguntas cujas respostas temo conhecer,
pois conhecendo, deixarei que o sol se ponha
muito mais cedo no meu horizonte,
deixarei que a noite me recolha
para que eu possa fechar meus olhos
e esquecer das vezes que, pretensamente,
julguei adivinhar teus sorrisos de chegada e partida,
sempre tão perto dos meus lábios,
perdendo-se dos meus beijos no ar móvel
em que segues ainda e todos os dias desde então...
O que há em mim de fragilidade
despede-se da realidade sempre que encontro
diante de mim teus olhos de som e cor,
que revivo o ritmo da tua respiração em meu pescoço,
como se nenhum outro ar pudesse te alimentar
senão repleto do meu cheiro.
Esqueço-me do quanto sabes dos meus olhos,
dos meus sonhos, da espera em que me coloco todas as noites,
indagando quantas estações se inaugurarão e quantas findarão
até que teus passos sejam pássaros ao lado dos meus.
O que há de fragilidade em mim, me retalha em postas
e quando penso que não há dor maior
do que todas as dores que já conheci,
eu descubro que tu ainda podes me doer bem mais,
toda vez que tento arrancar da minha memória
uma a uma das tuas frases...
O que há em mim de fragilidade
reluta em implorar pelo teu peito – meu céu de sempre,
teus lábios para que eu possa despejar além dos meus beijos,
todos os sorrisos que ficaram guardados à tua espera...
O que há em mim de fragilidade teme a distância
que parece se instalar entre nós vez por outra,
teme que um dia apenas encontre um amontoado de pétalas secas
onde existiram flores, vasos partidos
e barcos que se perdem na distância de dias tristes..."
(Rosana Ribeiro)

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