sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

MUITAS VEZES TE ESPEREI...

"Muitas vezes te esperei,
perdi a conta,
longas manhãs te esperei
tremendo no patamar dos olhos.
Que me importa que batam à porta,
façam chegar jornais, ou cartas,
de amizade um pouco -tanto pó
sobre os móveis tua ausência.
Se não és tu, que me pode importar?
Alguém bate, insiste através da madeira,
que me importa que batam à porta,
a solidão é uma espinha
insidiosamente alojada na garganta.
Um pássaro morto no jardim com neve.
Nada me importa; mas tu enfim me importas.
Importa, por exemplo, no sedoso cabelo
pousar estes lábios aflitos.
Por exemplo: destruir o silêncio.
Abrir certas eclusas,
chover em certos campos.
Importa saber da importância
que há na simplicidade final do amor.
Comunicar esse amor. Fertilizá-lo.
-Que me importa que batam à porta...-
Sair de trás da própria porta,
buscar no amor a reconciliação com o mundo.
Longas manhãs te esperei, perdi a conta.
Ainda bem que esperei longas manhãs
e lhes perdi a conta,
pois é como se no dia em que eu abrir a porta
do teu amor tudo seja novo,
um homem uma mulher juntos pelas formosas
inexplicáveis circunstâncias da vida.
Que me importa, agora que me importas,
que batam, se não és tu, à porta?"
(Fernando Assis Pacheco)

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