sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

NÃO QUERO, NÃO POSSO.

"Bate-me. Não quero, não posso.
Peço-te que me batas com os olhos
e me flageles com a boca.
És doido não digas inconsequências.
Tortura-me com as palavras do coração,
castiga-me com a dureza dos atos que não são,
mas peço-te...
Toma-me para ti, guarda-me
e acolhe-me em teu regaço.
Não quero, não posso.
Peço-te que não mintas em palavras
o que a tua alma te diz,
não negues a vontade e o desejo;
bate-me com a pele...
Manda o medo
para um lado melhor que a tua casa.
Não me entendes....não vês?
Sabes que te vejo,
que te sinto e pressinto os passos
e os gestos e os olhares,
não digas o contrário do que acreditas.
Por isso peço-te:
bate-me com os teus cabelos,
faz-me perder nos desertos do teu corpo todo.
É melhor não estar...é melhor eu ir...
Não caminhes por onde os teus passos negam em caminhar...
estou aqui agora, hoje , neste momento...
Não me julgues...
sabes que te quero, mas não assim.
De que falas, de que foges?
Estou hoje aqui, todo, inteiro, único,
porque me pedes a eternidade?
O sempre é o agora,
pois quem te contou o destinos das vidas?
É por isso, tu sabes...
é-me difícil ter-te de forma simples.
Quero-te mas tu assustas-me,
não te posso ter...
nunca soube o que é perder...
Não me esgotes, peço-te...
só quero que me batas com os pés de veludo
dos amantes escondidos.
Bato-te com os beijos de polvo...
consumo-te e castigo-te com o calor dos dias quentes,
faço-te perder com as unhas da fera que me fazes ser...
mato-te com as palavras secretas
que não escreverei..."
(Sebastião Campos)

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