"Repara no meu rosto
e mede a profundidade das minhas rugas.
Observa de perto o meu cabelo branco
e passa os dedos pelas minhas cicatrizes.
Tudo isso é a árvore que eu sou.
Da copa inatingível e secreta
até ao abismo das fundas raízes.
Se me falares baixinho lembrarei
as suaves brisas de Outono
e desprenderei abraços dos meus ramos
em folhas sedosas
para te atapetar o caminho.
Se um dia te cansares de mim
corta-me. Serra-me ao meio.
Arde-me. Mas peço-te meu amor
aproveitando este vento da tarde:
nunca na vida me deixes sozinho.
A solidão secar-me-ia de dor..."
(José António Gonçalves)
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
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