terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

REBAIXEMOS O AMOR

"As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.
Pensá-las é pensar
que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria
se tornam, absoluta,
numa outra -maior- realidade.
Começam a esmaecer
quando nos cansamos,
e todos nos cansamos,
por um ou outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos
que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser
e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor
ao estado de utilidade.
Do sonho do eterno
fica esse gozo acre
na boca ou na mente,
sei lá, talvez no ar..."
(Carlos Drummond de Andrade)

Nenhum comentário: