sábado, 15 de maio de 2010

EU NÃO SOU UMA ESTRELA

"Somos aquilo que ninguém vê. O que corre por dentro,
nos recônditos profundos de nossa alma, talvez,
nem a gente mesmo consiga ter acesso.
Tenho atravessado todos os dias da minha vida me repetindo.
Os mesmos erros. Os mesmos vícios. As mesmas inseguranças.
A mesma fraqueza de sempre.
E alguns poucos acertos no que concerne à trivialidades.
Metaforicamente, poderia dizer que não sou uma estrela,
não sou nem mesmo uma partícula de uma estrela.
Talvez, eu seja uma ínfima, a menor parte de uma partícula
qualquer que vagueia perdida pelo espaço.
Não, não trata-se de um lamento.
Não são lamúrias que escrevo aqui. Confesso-me apenas.
Dia após dia, visito esse mundo paralelo,
essa absurda realidade virtual que permite-me desnudar
o que nem eu mesma conheço, e encontro-me comigo mesma.
As palavras de hoje querem sair apressadas,
acontecimentos fizeram-me enxergar um pouco mais de mim,
e nesse encontro, descubro
que o meu desejo reside em nada querer. Em nada ser.
Ser nada nem coisa nenhuma. Não ser, não estar,
não fazer parte, absolutamente não existir.
Não tomo rumo, não me aprumo, não tomo tenência,
sou sem controle, sou perturbadora de mim mesma,
eu me canso de quem sou e nada além do "não ser" me acalma.
Eu penso que cada partícula de vida sente dor para existir.
Eu, sou uma partícula marginal. Não me acomodo.
Não tomo assento, quero pairar feito pluma para lá e para cá,
e com isso, sou errante. Sou o desajuste.
Não, eu não falo de cotidiano. Não falo da boa moça que sou
na realidade ou irrealidade do dia a dia.
Na minha exterioridade eu sou até feliz.
É o quê todos pensam, inclusive eu.
Quem me atormenta é a outra que eu sou, por dentro, trancada.
Insegura, insaciável, dona de todas as verdades,
ciumenta de toda a atenção, uma fera indomável
que só não sai fazendo maiores estragos por aí
porquê eu a trancafio à sete chaves de mil segredos.
Ela não tem por onde fugir, mas grita, blasfema,
canta canções profanas, e dia e noite desafia-me à um duelo.
Não posso soltá-la sob pena de ver meu castelo ruir.
Com isso, torno-me a insignificância. O desequilíbio,
o ser que não sabe calar suas inquietações, que não cresce,
não evolui e nada merece.
Ponto, vírgula, sem dó nem piedade.
Não, o caso não é de piedade. O caso é de condenação.
Eu mesma me julgo, me condeno, me carrego e me castigo.
Antes, porém, do derradeiro fim,
com a rebeldia típica dos culpados, dos desajustados,
dos ingratos, dos infiéis, dos Homens de pouca fé ,
brado aos céus de todas as cores:
-Por que, raios, Ó Senhor de todos os Céus,
me fizeste nascer assim, tão imperfeita?"
(Be Lins)

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