terça-feira, 22 de dezembro de 2009

AS METADES

"Por todas as metades que há na vida, eu choro.
Por seus desencontros,
Pelos minutos de atraso no ponto do ônibus,
Pelo avião que se perde,
Pelo beijo que não se rouba...
Pelo dia, que caminha solitário ao encontro da noite
E em seu colo jamais desperta.
Pelo sol, cuja luz ilumina a lua
Sem poder com ela compartilhar os seus efeitos...
Lamento tanto pelo deserto árido
Que não encontra seu oásis
E, sedento, se espalha em pranto.
Eu choro a solidão do mar...
Gigante em buscas e perdas constantes!
Mas de todas as metades desencontradas,
Eu choro mais pelas almas gêmeas que, desgarradas,
Dobraram esquinas em sentidos opostos...
Lamento a palavra não dita, o grito não dado!
A música não ouvida,
O poema não recitado.
Minha dor vai se espalhando
E toma minhas mãos…
As mãos, as mesmas mãos que jamais te tocaram.
As mãos que acenaram após a partida,
E que juntaram com cuidado
A areia que esculpiu tuas pegadas...
Toma conta de meus olhos
Que, cheios d’água,
Perderam os teus…
E numa questão de segundos
Só enxergaram a estrada vazia.
Perco-me enquanto busco.
Já não me reconheço.
Já não encontro o caminho.
Já não sonho.
Apenas espero que me resgates!
Não demores, te espero há tantas vidas..."
(Aila Magalhães)

Nenhum comentário: