quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

UM BARCO ABANDONADO

"A minha vida é um barco abandonado infiel,
No ermo porto, ao seu destino.
Por que não ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado?
Ah! falta quem o lance ao mar, e alado
Torne seu vulto em velas peregrino
Frescor de afastamento,
No divino amplexo da manhã,
Puro e salgado.
Morto corpo da ação sem vontade
Que o viva, vulto estéril de viver,
Boiando à tona inútil da saudade.
Os limos esverdeiam tua quilha,
O vento embala-te sem te mover,
E é para além do mar a ansiada ilha..."
(Fernando Pessoa)

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