domingo, 27 de dezembro de 2009

À FERNANDO PESSOA

"Me comove ver escritos por outras pessoas,
todos os sentimentos que experimento e tento,
recursivamente, organizar dentro de mim,
na tentativa frustrante de escrevê-los.
Como pode?... São meus sentimentos e outros,
que nem ousaram saber da minha existência,
saem por aí, a expor minhas mais recônditas angústias,
alegrias, dúvidas, esperanças....
Não é possível que estivessem falando de si mesmos!
Falavam de mim. Sim, falavam de mim!
Ou, melhor, falavam por mim, choravam por mim,
riam por mim, sofriam por mim.
E ainda assim tantos sentires me sobraram,
que creio haver uma inesgotável fonte de sentimentos,
que nunca cessará, e sempre haverá alguém que,
inadvertidamente, beberá dela, e entrará neste mundo
de sensações que não pode ser descrito,
mas sim, apenas sentido e vivido.
Resta a mim, a repetida tarefa de dizer, dizer,
e dizer o que sinto através das palavras que leio.
Palavras de outras pessoas. Sim !
Outras pessoas que ousaram escrever os meus sentimentos
sem que eu as autorizasse para que, a posteriori,
eu lesse e indagasse silenciosamente:
-quando eu escrevi isso?-.
Palavras dessas outras pessoas que um dia, antes de mim,
ousaram beber dessa fonte e por ela foram também tragadas,
mas deixaram para mim, ecos de seus sentires,
como uma prova da comunhão que paira sobre toda a humanidade,
mas que apenas alguns poucos podem identificá-la.
Agradeço a todos por traduzirem aquilo que um dia eu sentiria
e, muitas vezes, não entenderia em mim mesmo..."
(Helena)

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