segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

NOS JARDINS DO MEU SILÊNCIO...

Há uma lâmina de frio encostada ao meu pescoço.
Posso recolher o mel da inesperada estação,
amar os teus lábios.
Posso ver cair os frutos, na distância,
aspirar ao sentido ardente dos cometas,
entrever o poema que oscila por trás das cortinas.
As três luas são um enigma,
e os enigmas sabe-se que são sinais trágicos.
O meu nome é hoje um sol despedaçado
no corpo inocente da primavera.
Abro os portões, o hausto dos campos
atravessa uma faca na garganta,
mas talvez eu possa cantar.
As luas arrebatam o sono inquieto
das cancelas terrestres,
comboios avançam sobre pétalas,
queimam a geada,
derrubam o eterno das montanhas.
Chega-se tarde ao que se ama.
Eu digo, eu canto, tu danças, levitada,
nos vastos jardins do meu silêncio..."
(Vasco Gato)

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