segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O QUE FAREI?

"Mesmo que queira
eu não serei capaz de te revelar todos os meus segredos,
olho para mim e a única coisa que vejo é sangue,
sangue transformado em nada,
uma verdade quase apagada num mundo quase acabado.
Que é feito de mim?
Quando me apetece rir já nem rio,
quando me apetece sonhar já nem sonho,
quando me apetece abrir mão do resto
para ser eu própria não deixo de o fazer.
Cá dentro, no mais profundo de mim arde uma dor tão forte
que parece encher os espaços em volta,
desespero cruel que invade
e teima em fazer-me permanecer assim
como uma vadia de mim, desesperada, alucinada,
descarregada de desculpas demasiado óbvias,
queria ser capaz de sorrir
ou de aprender a fazê-lo de novo,
recebo tão bem os outros dou-me tanto
que eles nem se dão conta,
às vezes magoa ser rejeitada pelo vão da escada,
eu queria ter um mundo só meu
e tenho mas é tão inteiro
que não cabe neste mundo pequenino que me rodeia!
Agora o que hei-de eu fazer com ele?
Vou escondê-lo em mim até aparecer alguém com a alma vazia
capaz de me receber em amor?
Vou dá-lo sem medida e desiludir-me
por achar que ninguém o recebe tão bem como eu quereria?
O que farei?"
(Margarete da Silva)

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