sábado, 12 de dezembro de 2009

DESPI O MEU CORPO...

"Despi o meu corpo,
deixei que ele se despisse de toda a tristeza,
só hoje até o sol adormecer atrás das montanhas.
Deixei que a luz invadisse a minha alma e imaginei
que ela abateria a tiro a escuridão que a consome,
não consigo caminhar direito,
os medicamentos dão-me tonturas
mas hoje quero ver o mar,
pego no papel azul, encho o lavatótio de água,
coloco-lhe meia-dúzia de conchas
e enquanto olho o mar fico a pensar como seria
se hoje eu tivesse forças para neutralizar a dor
sendo apenas eu neste pantano coberto de substituições.
Substituo a razão pelo sonho, molho as mãos na água
que não tem sal mas que cheira a sal,
apanho algumas conchas, acaricío-as no rosto,
faço de mim o que pensava não ser capaz.
Despi o meu corpo de agonias só para sentir o mar,
fiel companheiro, aquele que nunca me pode acompanhar,
aquele que sempre acompanharei.
Eu sei do que sou capaz e hei-de sempre acompanhar o mar
e ser feliz mesmo que seja escondendo a dor
e deixar que ela também nos acompanhe em segredo
para que quem nos segue não se afaste.
O meu corpo despido de tristeza
e o mar que há-de sempre receber-me de braços abertos
com o olhar profundo a abrir-me a alma
tentando despir-me de tristeza..."
(Margarete da Silva)

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