segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

EU NÃO SOU PEDRA...

"Uns corpos são como flores,
Outros como punhais,
Outros como fitas de água;
Mas todos, cedo ou tarde,
Serão queimaduras que em outro corpo aumentem,
Convertendo pelo fogo uma pedra num homem.
Mas um homem agita-se em todas as direções,
Sonha com liberdades, compete com o vento,
Até que um dia se apaga a queimadura,
Volta a ser pedra no caminho de ninguém.
Eu, que não sou pedra, mas caminho,
Que, ao passar, atravessam os pés nus,
Morro de amor por todos eles;
Dou-lhes meu corpo para que o pisem,
Embora os leve a uma ambição ou uma nuvem,
Sem que nenhum compreenda
Que nuvens ou ambições
Não valem um amor que se entrega..."
(Luis Cernuda)

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