"Enquanto cheiro o mar calo-me,
gosto de tudo aqui,
abandono o que já me deixou à muito
e deixo-me ser outono a estação que melhor me acolhe,
tornei a maresia a minha melhor amiga,
esqueci-me de me abraçar mas dei-me ao luxo de me entregar.
Deixo que os meus pés fossem beijados pelas ondas
que depois avançaram sobre mim cobrindo-me de beijos.
Apanhei umas conchas, escrevi uns textos,
alguns poemas com a luz da imaginação
a fazer-me tremer as mãos que com muita pena
minha não tinham papel...
Só a areia onde escreveriam
se não soubessem que o mar não apagaria
mas sei disso mais do que ninguém
e é por isso que fico por aqui
até o sol dar uma volta quase completa
para apagar de dentro de mim a perfeição
que me afasta dos outros
ou a imperfeição que me torna especial
ao pouco de não encontrar quem me entenda.
Calo-me...
e deixo que o cheiro a mar me invada..."
(Margarete da Silva)
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